O luto é uma das principais questões que levam a gente a buscar ajuda na psicoterapia. Embora nem todo mundo consiga recorrer a esse tipo de acompanhamento, por questões financeiras, falar e ser ouvido neste momento de dor é muito importante para quem vive essa fase. Claro que há pessoas que preferem o silêncio, mas se sentir acolhido de alguma forma é o que todo mudo deseja.
Ações que ajudam
Recentemente a Nestlé, uma empresa reconhecida internacionalmente, criou o Projeto Supera, conduzido pela House of Feelings, que prevê a realização de encontros para ajudar os colaboradores e as famílias de quem trabalha na empresa a lidarem com o luto causado pelas perdas com a covid-19.
A proposta da Nestlé me chamou muito a atenção porque eu percebo que muitas pessoas têm a necessidade de falar da sua perda e, num grupo em que todos vivenciam a mesma dor, é mais fácil encontrar a empatia. Importante destacar que empatia é diferente de simpatia e é muito claro perceber isso.
Vou dar um exemplo aqui. Quando eu perdi meu pai, junto com a dor, com a falta, com a saudade, com o sentimento de estar desprotegida, eu tinha muita necessidade de relembrar os diálogos que eu tive com ele, por exemplo. Mas quem passou por essa experiência, e sentiu o mesmo que eu, sabe que por mais que as pessoas que estejam ao nosso redor nos amem e nos acolham, a vida segue. A experiência do luto é totalmente individual e quando alguém nos encontra e nos pergunta como estamos, na verdade, quer saber se estamos bem ou não, mas na maioria das vezes não quer ouvir tudo o que queremos e precisamos falar. A pessoa logo engata em outro assunto e não é por maldade.
A psicoterapia no processo do luto
As pessoas que têm essa necessidade de falar para elaborar o sentimento são muito beneficiadas com o processo de psicoterapia. Falar, ouvir a si mesmo e elaborar a experiência é o princípio da psicanálise. Por outro lado, quando a pessoa não busca um acompanhamento profissional ou integra um grupo de apoio, como este que a Nestlé propõe aos colaboradores, há o risco de dar muito errado. Chega a ser constrangedor para as pessoas que não estão preparadas para ajudar. Um amigo talvez não saiba o que falar para quem está passando pela perda, ou simplesmente não está disposto a escutar tudo o que a outra pessoa precisa externar. Aí vêm aquelas frases que quem vive o luto não quer ouvir: “foi melhor assim”, “ele está melhor agora, parou de sofrer”, “Deus sabe o que faz”, “bola pra frente”. Esse tipo de comentário não ajuda em nada. Na primeira fase do luto, a gente só quer que aquela perda não tivesse ocorrido.
Vamos deixar claro aqui que a psicoterapia não tira a dor de ninguém. É um processo. Especialistas em luto dizem que o tempo de um luto saudável leva mais ou menos dois anos. Nesse período, a ajuda profissional acaba tornando o processo mais tranquilo. A pessoa enlutada não fica com aquela “coisa engasgada”, porque sabe que tem um espaço para falar, para colocar pra fora, pra se ouvir e trabalhar o sentimento.
As frases feitas não fazem parte do trabalho de psicoterapia. O profissional vai ouvir, fazer mais perguntas e ajudar a extrair aquilo que precisa sair lá de dentro.
A saudade e a dor nunca acabam, isso é certo. É comum que, ao fazer contato com as lembranças, venha o choro mesmo depois dos “dois anos de luto”. A vida segue sim, mas se a gente recebe acolhimento e empatia - profissional ou num grupo de apoio, por exemplo - segue de forma mais fácil.
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